Querido Pai Natal,
Faz algum tempo desde a última vez que falámos… Mais ainda desde a última vez que te escrevi! Pensei, inclusivamente, que a nossa relação já tinha dado tudo o que tinha a dar e que já não serias, para mim, mais que uma lembrança. Pois bem… Como em tantas outras coisas na minha vida, estava redondamente enganado! Não que tenha tido um súbito ataque de inocência e fé para voltar a acreditar em ti, nem que esteja desesperadamente a tentar todas as hipóteses para ver se recebo um presente que quero muito… Nada disso… Esta não é uma carta de pedido, mas sim uma carta de apresentação! Na verdade, escrevo-te apenas porque muito em breve vou voltar a precisar de ti e de que entres de novo na minha vida!
Neste Natal, ainda só com 3 mezinhos, o Sebastião está muito longe de perceber ou de reparar que este conjunto de dias são imensamente diferentes do resto do ano… Principalmente para as crianças! Mas para o ano, creio que ele já notará… Creio que já vai olhar para a árvore de Natal e ver mais que um conjunto de luzes a piscar… Creio que já vai achar que os montinhos de presentes são mais de que um aglomerado de cores… Creio que já vai perceber que sininhos em músicas significa uma altura do ano e não um som… E creio que já vai saber quem tu és… O que, para uma criança nesta época, significa o mundo! Vai ficar fascinado contigo, vai adorar-te, vai respeitar-te, vai sentir-se curioso contigo, vai temer-te, vai querer ver-te, vai falar contigo, vai pensar em ti, vai escrever-te e fazer-te desenhos e vai olhar para ti com uns olhos que eu gostaria que ele só usasse para mim! Em suma… Durante uns tempos, sei que vais ser a pessoa em quem ele mais vai pensar! Vi-o acontecer comigo e com os meus primos, vi-o acontecer com os meus amigos, vi-o acontecer com os meus sobrinhos… Mas desta vez é diferente e queria que o soubesses! Estou preparado para que enfeitices o meu filho como fazes a todos, mas já que o vais fazer, decidi reaproximar-me de ti porque, como nas outras coisas todas, quero fazer parte disto quando chegar a hora. Queria então dizer-te que podes contar comigo como teu aliado… Vou fazer de tudo para que ele saiba quem tu és e para que a ingenuidade de o saber dure o mais possível. Vou vestir-me de vermelho com uma barriga e uma barba falsas se assim for necessário ou vou esperar em filas intermináveis para sentar o Sebastião ao colo de quem o faça. Vou deixar pegadas de neve ao pé da árvore e aconselhá-lo a deixar-te umas bolachinhas e leitinho para o caso de vires com fome. Vou tentar convencê-lo que cabes na nossa chaminé por mais curta que ela seja e que vais sempre arranjar maneira de entrar sem ele te ver. Vou ensiná-lo que estás sempre a dizer Ho-Ho-Ho porque és genuinamente feliz por o teu trabalho ser entregar prendas às pessoas. Vou dizer-lhe que sabes quando ele se porta mal mas que também sabes sempre todas as coisas boas que ele faz. Vou usar-te sempre que ele não quiser comer a sopa e sempre que ele disser “se faz favor”. Vou explicar-lhe que faz todo o sentido que as renas possam voar e que um trenó pode, sem dúvida, ser o transporte mais veloz que existe. Vou fazer tudo isto e mais o que for preciso para ele acreditar o tempo que puder… Porque o acreditar, seja em ti ou em dragões, é onde está escondida a magia… É onde se encontra aquele brilho nos olhos deles que faz os nossos ficarem brilhantes também… É o que mais diferencia uma criança de nós e o que as torna tão melhores! Por isso preciso que colaboremos e que também me deixes brincar.
Preciso de voltar a acreditar um pouco para quando ele olhar para mim saiba que é tudo verdade… Para que os dois juntos, possamos sempre argumentar contra quem nos tentar dizer o contrário.
Dito isto, penso que será melhor aproveitar a embalagem e pelo sim, pelo não, falar-te já um pouco do Sebastião! Ele ainda não te pode escrever este ano porque, como deves compreender, ainda nunca o deixei tocar num lápis ou numa caneta, mas quero que saibas que desde que nasceu tem sido um menino muito bem-comportado! Come sempre tudo, nunca refila para ir para a cama, só chora se os Pais se atrasam para lhe dar a comidinha, adora rir-se para mim e que eu lhe diga coisas elaboradas como “dadalababélémémómi” ou “mimipigócópópópópi”, porta-se sempre bem no banho, gosta de acordar cedo quando está só com a Mãe e de dormir até tarde quando fica com o Pai, adora andar de carro desde que não fique parado no trânsito e fica maravilhado com passeios no Jardim. Gostava, inclusive, de te recordar que, este ano, o Sebastião não fez qualquer lista com presentes que queria receber, o que me parece algo que deves ter em conta quando fizeres a distribuição das coisas em 2017. Bem sei que eu próprio estive um pouco ausente nos últimos anos e que talvez nem sempre tenha sido o menino mais bem-comportado, mas quero dizer-te também que espero que saibas separar as coisas e que o trates como uma loja deve tratar um cliente novo, fazendo tudo para que ele regresse muitas vezes no futuro… Se fizeres a tua parte, farei a minha conforme te prometi!
Espero sinceramente que esta seja a primeira de uma infinidade de cartas que te escrevo, ajudo a escrever ou simplesmente que envio para ti… Espero-o porque quero muito viver tudo o que aí vem no futuro e porque… Sabes que mais?… Porque já tinha muitas saudades tuas!
Para o ano daremos mais notícias e aviso-te já que terás mais dois crédulos a aguardar ansiosamente que chegues…
Até lá então Nicolau.
Um abraço,
Francisco