Domingo, 07 Maio 2017 / Published in Blog

 

Como já vos tinha dito, nunca fui muito destes “Dias de…”, mas hoje parece-me ser o dia indicado para celebrar a mãe do Sebastião.

Sempre quis acreditar que não há nada que uma Mãe faça que um Pai não possa fazer também igual, que não há sentimentos diferentes e que as ligações aos filhos são exactamente as mesmas. Isto sempre me trouxe alguns dissabores porque se há coisa que não devemos dizer a uma Mãe é algo deste género. Mas sou um Pai muito orgulhoso da minha Paternidade e gosto de a divulgar e exacerbar sempre que posso… Acho que há poucos Pais a fazê-lo e nunca percebi porquê!

Contudo, ao explorar o mundo da Paternidade e ao descobrir os laços Pai-Filho, é difícil não entender que exista também uma relação Mãe-Filho e que é diferente daquilo que eu conheço. Apesar de achar que os Pais algumas vezes são subestimados ou se subestimam propositadamente, tenho de aceitar que há coisas que fazem parte só das Mães.

Foi a Mãe do Sebastião que o transportou durante 42 semanas com ela e que o protegeu de tudo… Foi ela e a paciência dela que o fizeram nascer apesar de ter vindo com ajuda… Foi ela e a força dela que lhe fizeram companhia e cuidaram dele quando teve de ficar mais uns dias no Hospital… Foi ela e a coragem dela que conseguiram que apesar do cansaço, do desconforto e tudo o mais, ele tivesse saído tão calminho e bem desses dias… Foi ela que passou as primeiras noites acordada sozinha porque o Pai não podia lá estar… Foi ela que teve de aguentar os maus médicos, as más enfermeiras e mesmo assim ter o colinho mais reconfortante e relaxante do mundo para o Sebastião… Foi ela que viveu todos os segundos da angústia desses dias sem nunca deixar de estar pronta para ele…

Logo aqui devia ter percebido (e de certa forma até percebi…) que aquela relação era diferente. Não melhor ou pior que a minha, mas diferente. A Mãe pânica onde o Pai acalma, a Mãe preocupa-se onde o Pai descansa, a Mãe resolve onde o Pai complica, a Mãe veste à criança mais uma peça de roupa onde o Pai tira mais uma e por aí em diante. Os dois fazemos e sentimos tudo, mas em alturas diferentes e em dimensões diferentes e o Sebastião tem muita sorte por isso. Por isso e por ter uma Mãe que olha para ele como a Mãe dele o faz… Por ter uma Mãe que dorme a tarde toda abraçada a ele, mas que acorda com um simples suspiro dele… Por ter uma Mãe que tem constantemente medo que alguma coisa lhe aconteça… Por ter uma Mãe que quer fazer sempre mais vídeos e tirar mais fotos… Por ter uma Mãe que quer que ele ande sempre bonito e arranjadinho… Por ter uma Mãe que não consegue pensar em voltar ao trabalho… Por ter uma Mãe que sabe o importante que é estar perto dele… Por ter uma Mãe que lhe dá sempre colo mesmo quando o Pai acha que não… Por ter uma Mãe que não gosta de o ouvir chorar e que se assusta muito se acordar com o choro dele… Por ter uma Mãe relaxada que não deixa de passear com ele esteja frio ou calor… Por ter uma Mãe que pense tanto no futuro dele e no que o Mundo pode ter para lhe oferecer… Por ter uma Mãe que deixa sempre que seja o Pai a adormece-lo, mas que não se vai deitar sem lhe dar um beijinho e dizer o bonito que ele é… Por ter uma Mãe que gosta tanto tanto dele…

Eu também tenho muita sorte de a ter! Feliz Dia da Mãe meu amor…

Photos by: Mariana Castanheira

Quinta-feira, 06 Abril 2017 / Published in Blog

 

Voltei esta semana ao trabalho após a minha licença de Paternidade! O que posso dizer é que é duro…

É duro porque, durante aquilo que nos parece ser um curtíssimo período de tempo, nos habituamos a certas rotinas e a certas coisas que depois deixam um vazio muito grande! Coisas simples como ficar na cama a brincar com o nosso filho de manhã, termos a oportunidade de todos os dias lhe dar o almoço, ir passear ao Jardim depois de almoço ou simplesmente ficar a olhar para ele a dormir a sesta, tornam-se facilmente momentos altos dos nossos dias… E acima de tudo, momentos altos que, de um dia para o outro, deixamos de conseguir replicar com a assiduidade desejável!

Na minha opinião (sempre a tive e isto apenas veio servir de confirmação) é pouco tempo…. Principalmente porque é tempo suficiente para criarmos hábito! A partir de certa altura ingenuamente fantasiamos que aquela é agora a nossa vida…. Que é assim que vamos viver para sempre! Como pode não ser? Estamos a estreitar os laços com os nossos filhos, estamos a dar-lhe o que eles mais querem e precisam e estamos totalmente dedicados ao que é verdadeiramente mais importante nas nossas vidas!

“Há muitos países em que é ainda menos tempo! Há países onde nem sequer tens direito a nada! “ dirão muitos. Pois, mas também os há onde temos direito a muito mais! Porque temos sempre de nos guiar por aqueles que têm menos que nós e não almejar aos que têm mais? Não digo que não seja difícil para o Estado e para as entidades empregadoras. Mas será um sacrifício ou um investimento? O Estado não terá um retorno futuro muito maior se as crianças crescerem mais felizes (e acreditem que crescem…)? As empresas não terão um retorno muito maior se tiverem colaboradores mais felizes e focados ao invés de pessoas a sofrer de ansiedade da separação? E isto é válido também para mães…. Também acho que têm pouco tempo para estar em casa com os filhos e também acho que toda a gente tem a ganhar se lhes for permitido estar mais tempo com os filhos!

Bem sei que isto não pode ser algo que dure para sempre e que, na verdade, têm sido dados passos muito importantes neste tema, principalmente no que aos Pais diz respeito! Sei que estou a escrever ainda muito a quente e tudo parece pior! Mas sendo algo que comprovadamente é tão benéfico para todas as partes gostava que se pensasse em alternativas para tornar isto mais fácil! Algo que não fosse este dá e tira que inevitavelmente sinto desde que o Sebastião nasceu.

Ao contrário da opinião de muita gente, acredito que estes primeiros tempos são os mais importantes e marcantes naquilo que vai ser o desenvolvimento das crianças. É altura em que são mais permeáveis ao que as rodeia e ao mesmo tempo dependentes de quem as rodeia. Será pedir demais estar focado a 100% nisto? Será pedir demais estar sempre presente? Será pedir demais que ele comece este caminho de mãos dadas com o Pai e a Mãe? Não me parece…

Para a semana estarei de volta… Um pouco mais bem-disposto, acredito…

Photo by: http://www.ties.pt/

Quinta-feira, 30 Março 2017 / Published in Blog

 

Ao longo da minha vida, fui sempre olhando com olhos diferentes para o Dia do Pai.

Começou por ser, simplesmente, o dia em que fazíamos pisa-papéis ou marcadores de livros de livros na escola. Pelo menos no meu caso, posso dizer que as lembranças que produzíamos para os nossos Pais não variavam muito destas opções, ou seja, num ano uma pedra decorada, no outro um pedaço de cartão decorado. Mas, a verdade é que sempre gostei de as fazer, apesar de não ser muito prendado no que toca às artes manuais. Havia algo de especial naquela pedra que eu pintava para oferecer ao meu Pai e que depois via exposta lá em casa com algum destaque ao pé de outras coisas mais a sério…

Com isto, chego à próxima fase! A fase em começo a achar estranho e um pouco sem sentido, ter um monte de pedras pintadas ou rectângulozinhos de cartão rabiscados em vários cantos da casa. Com o avançar dos anos e, por conseguinte, do número de lembranças, comecei a achar que esta repetição não era lá muito boa ideia… Ainda por cima, porque conseguia ver agora que aquilo que antes achava serem obras de arte, na verdade não o eram! Comecei então a pensar que o meu Pai merecia algo melhor e lá fui pedindo uns trocos para comprar uma prendinha que daria todo orgulhoso quando dissesse “Feliz Dia do Pai”. Era, talvez, mais impessoal, mas sentia que era coisa muito mais digna do que umas míseras pedrinhas!

 

Ao envelhecer mais uns aninhos, começamos então a dar um pouco mais valor à semanada e menos a estas coisas de presentinhos… Ficamos menos crianças e mais parvinhos, e creio que todos passámos por isso! Entramos assim na fase dos cartões! Fossem feitos à mão, comprados e assinados ou até surripiados na papelaria dos avós (bem sei que esta opção não deve ser assim tão comum, mas no meu caso era de facto algo real…) nesta altura queria apenas mostrar que me tinha lembrado e tentar dizer, em poucas palavras, que esperava que fosse um bom dia!

Depois fartei-me! Algures no final da adolescência, decidi que, para mim, tinham acabado os “Dias de…”. No bom espírito rebelde dos jovens, convenci-me (não sem alguma razão…) que estes dias são apenas uma cabala para nos obrigarem a gastar dinheiro e fiz boicote! Claro que nunca deixou de haver um telefonemazito, um beijinho ou uma palavra especial, para não arriscar ferir suscetibilidades, mas os presentes acabaram e de alguma forma a importância do Dia em si também desapareceu.

Assim se vai mantendo até hoje… Pelo menos até há uma semana! Confesso que continuo a não achar grande piada a estes dias (excepção feita ao Dia da Criança, que “celebrei” com fulgor até à minha maioridade…) e que continuo a achar que são uma necessidade estranha que se criou às pessoas para se oferecerem coisas. São um dia onde todos os filhos e todos os Pais são bons e onde se partilham infinitas dedicatórias e fotos antigas nas redes sociais. Mas tenho de dizer que o passado dia 19 foi, de facto, diferente. Não pelo presente lindo que “o meu filho” me ofereceu… Não por toda a gente com que falei nesse dia me ter dito “Então?! Este ano já estás também do outro lado, hein?” (ao que apenas podemos responder com um sorriso e um seco “Sim, sim!”)… Não foi por ter saído para passear com o meu filho nesse dia… Não foi por ouvir um “Para ti também” quando desejei “Bom-dia do Pai” ao meu Pai! Mas houve algo especial quando “vimos os dois” a bola juntos, equipados a rigor nesse dia… Quando olhava para ele e sabia que dia era… Havia ali algo diferente!

Deixei-me levar, lá fiz a partilha da praxe no Facebook, voltei subitamente a dar muito valor aos pisa-papéis e aos marcadores de livros, e pensei que não vejo a hora de receber um…

Para a semana aqui nos encontramos outra vez… Até lá!

Quarta-feira, 15 Março 2017 / Published in Blog

 

Tenho percebido, ultimamente, que ao ficarmos de licença e por conseguinte, termos mais tempo sozinhos com o nosso filho, ficamos mais atentos a certas coisas que antes não ligávamos muito. Uma dessas coisas, sobre a qual começo a sentir necessidade de desabafar é a surpreendentemente grande quantidade de pessoas que me aborda quando estou sozinho com o Sebastião na rua.

Não estou a falar dos simples “É tão bonito”, “É um rapaz?” ou “Que riquinho” (coisa que descobri agora que é mesmo algo que as pessoas dizem). Estou a falar da facilidade com que gente que nunca vi na vida, passa por mim numa esplanada e diz “Posso ver?” enquanto agarra no carrinho e o viram para eles, transformando a sua própria questão numa questão retórica.

Confesso que as primeiras vezes cheguei a ficar um bocado babado… Achava claramente que era algo que só faziam com o Sebastião por ser uma lindeza de criança e não me importava de ser incomodado por isso! (Ingenuidade de pai de primeira viagem, eu sei!) Contudo, com o passar do tempo, o aumentar das vezes que isto sucedia e com uma observação mais apurada da atitude das mesmas pessoas para com outros bebés, percebi que se tratava apenas de um ser humano querer olhar para outro, porque sim.

Os Pais, são meros espectadores deste processo, servindo apenas para o observador despejar o seu aviso / pergunta de que vai ver o bebé. Seguidamente, pegam no carrinho, viram-no conforme lhes aprouver para poderem mirar e lá ficam um bocado à conversa com a criança. Uns “gugu-dádás” depois (no melhor dos cenários), já satisfeitos, voltam a colocar o carrinho na posição inicial, viram costas e vão à sua vida com ocasional “Obrigado” ou “Desculpe”. De notar que depois da primeira pergunta (na qual ninguém espera por resposta) não há qualquer questão adicional… Não interessa se o bebé está a dormir, se o carrinho está ali por alguma razão em particular ou sequer se me importo que um perfeito desconhecido pegue no carro onde está o meu filho e durante uns segundos o trate como seu. Na maioria das vezes não me importo, de facto. Com mais ou menos paciência lá vou sorrindo, acenando com a cabeça e concordando com os elogios que vão sendo feitos.

Mas não deixo nunca de me questionar onde é que isto nasceu. Quem terá sido a primeira pessoa que olhou para um Pai com um bebé e pensou “Bem… Vou ali olhar para aquela criança! Quer-me parecer que tenho todo o direito disso!”. Bem sei que os bebés são criaturas cativantes e maravilhosas, mas não deixam de ser pessoas. Não seria estranho que quando estivessem num café com amigos, alguém se chegasse ao pé desses amigos e dissesse “Olhe, vou só ver aqui este tipo!” enquanto vos rodava a cadeira onde estão sentados para que ficassem os dois cara a cara? Dito assim parece parvo, certo?

E há mais. Uma grande maioria dos praticantes desta actividade, não tem também grande pejo em largar uma festinha ou uma coceguinha. Se o olhar não me incomoda grande coisa, o tocar já me faz um pouco mais de comichão! Raramente digo alguma coisa e hoje em dia já me vou posicionando a mim e ao carrinho de forma preventiva, mas pela naturalidade das pessoas não tenho dúvidas de que ficariam elas ofendidas comigo se

soltasse um “Tente só não lhe tocar nas mãos e na cara” que fosse. Talvez seja eu a ser esquisito, mas voltem ao exercício anterior e adicionem agora o tal estranho a apertar-vos as bochechas… Aumenta ainda mais o grau de estranheza, não é?

Em suma… Fico feliz que gostem do meu filho, que sorriam e brinquem quando olham para ele, mas por favor, tentem perceber se não é inconveniente e acima de tudo, não lhe metam as mãos cheias de sei lá o quê na cara.

Até para a semana.

Photo by Catarina Ferreira (Ties)

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