Ao longo da minha vida, fui sempre olhando com olhos diferentes para o Dia do Pai.
Começou por ser, simplesmente, o dia em que fazíamos pisa-papéis ou marcadores de livros de livros na escola. Pelo menos no meu caso, posso dizer que as lembranças que produzíamos para os nossos Pais não variavam muito destas opções, ou seja, num ano uma pedra decorada, no outro um pedaço de cartão decorado. Mas, a verdade é que sempre gostei de as fazer, apesar de não ser muito prendado no que toca às artes manuais. Havia algo de especial naquela pedra que eu pintava para oferecer ao meu Pai e que depois via exposta lá em casa com algum destaque ao pé de outras coisas mais a sério…
Com isto, chego à próxima fase! A fase em começo a achar estranho e um pouco sem sentido, ter um monte de pedras pintadas ou rectângulozinhos de cartão rabiscados em vários cantos da casa. Com o avançar dos anos e, por conseguinte, do número de lembranças, comecei a achar que esta repetição não era lá muito boa ideia… Ainda por cima, porque conseguia ver agora que aquilo que antes achava serem obras de arte, na verdade não o eram! Comecei então a pensar que o meu Pai merecia algo melhor e lá fui pedindo uns trocos para comprar uma prendinha que daria todo orgulhoso quando dissesse “Feliz Dia do Pai”. Era, talvez, mais impessoal, mas sentia que era coisa muito mais digna do que umas míseras pedrinhas!
Ao envelhecer mais uns aninhos, começamos então a dar um pouco mais valor à semanada e menos a estas coisas de presentinhos… Ficamos menos crianças e mais parvinhos, e creio que todos passámos por isso! Entramos assim na fase dos cartões! Fossem feitos à mão, comprados e assinados ou até surripiados na papelaria dos avós (bem sei que esta opção não deve ser assim tão comum, mas no meu caso era de facto algo real…) nesta altura queria apenas mostrar que me tinha lembrado e tentar dizer, em poucas palavras, que esperava que fosse um bom dia!
Depois fartei-me! Algures no final da adolescência, decidi que, para mim, tinham acabado os “Dias de…”. No bom espírito rebelde dos jovens, convenci-me (não sem alguma razão…) que estes dias são apenas uma cabala para nos obrigarem a gastar dinheiro e fiz boicote! Claro que nunca deixou de haver um telefonemazito, um beijinho ou uma palavra especial, para não arriscar ferir suscetibilidades, mas os presentes acabaram e de alguma forma a importância do Dia em si também desapareceu.
Assim se vai mantendo até hoje… Pelo menos até há uma semana! Confesso que continuo a não achar grande piada a estes dias (excepção feita ao Dia da Criança, que “celebrei” com fulgor até à minha maioridade…) e que continuo a achar que são uma necessidade estranha que se criou às pessoas para se oferecerem coisas. São um dia onde todos os filhos e todos os Pais são bons e onde se partilham infinitas dedicatórias e fotos antigas nas redes sociais. Mas tenho de dizer que o passado dia 19 foi, de facto, diferente. Não pelo presente lindo que “o meu filho” me ofereceu… Não por toda a gente com que falei nesse dia me ter dito “Então?! Este ano já estás também do outro lado, hein?” (ao que apenas podemos responder com um sorriso e um seco “Sim, sim!”)… Não foi por ter saído para passear com o meu filho nesse dia… Não foi por ouvir um “Para ti também” quando desejei “Bom-dia do Pai” ao meu Pai! Mas houve algo especial quando “vimos os dois” a bola juntos, equipados a rigor nesse dia… Quando olhava para ele e sabia que dia era… Havia ali algo diferente!
Deixei-me levar, lá fiz a partilha da praxe no Facebook, voltei subitamente a dar muito valor aos pisa-papéis e aos marcadores de livros, e pensei que não vejo a hora de receber um…
Para a semana aqui nos encontramos outra vez… Até lá!