Aproxima-se a passos largos a tão aguardada licença de paternidade, mas confesso que os tantos avisos, maus augúrios e promessas de um cansaço extremo por parte dos amigos se começam a misturar um pouco com a vontade que tenho de ficar um mesinho com o meu filhote em casa!
Tendo tudo isto em conta, penso que não poderia ter feito melhor escolha para esta entrevista do que o João Marchante. O João é Pai da Catarina e passou há relativamente pouco tempo por esta experiência. Quando lhe perguntei como tinha sido para ele, a resposta não me poderia ter deixado mais relaxado: “Acabaram por ser umas feriazinhas”… Ufa, era exactamente o que queria ouvir! Ainda assim acabei por tentar investigar um pouco mais… Será que não houve dias em que ele não tinha tempo para nada a não ser dar atenção à cria? “Ela dormia imenso… Não me chateou nada e, na verdade, hoje em dia pede-me muito mais atenção do que na altura! Nesse mês entretinha-se muito a ela própria… A brincar no parque, a descobrir os brinquedos! É tão calma que tive de ir a algumas reuniões de trabalho nesse mês e ela foi comigo assistir tranquilamente” Ora aí está! De repente consegui voltar aos tempos da inocência onde acredito que vai ser um dos melhores meses da minha vida! A verdade é que quando eu e o Sebastião temos um dia Pai e Filho, consigo dormir à vontadinha até às 11:00 e fazer a minha vida com a maior descontracção do mundo… O que faz muita comichão a alguns dos meus amigos já Pais… Surpreendentemente, os mesmos que me disseram que ia ser um mês horrível… Talvez haja uma relação nisto! Percebo então que muito provavelmente a minha experiência vai ser mais próxima da do João e por isso pergunto se tem algumas dicas e se notou na Catarina alguma diferença de quando ficava com a mãe para quando começou a ficar com ele: “Nela não. Notei diferença foi na Mãe… Passou do 8 para o 80! Antes chegava a casa e dizia: “ Fala comigo… Preciso de um ser humano que saiba comunicar”, quando fiquei eu com ela, passou a: “Ai a minha filhinha… Tive tantas saudades dela o dia todo”” Ao ouvir isto, compreendi o que ele queria dizer, tive um acessozinho de malvadez querida e perguntei se ele às vezes não provocava um pouco a Mãe… Elas estão imenso tempo sozinhas com eles, portanto é normal que nós queiramos meter um pouco de pirraça e ciúmes quando somos nós a ter o poder sobre as as selfies com o pequeno: “Ela tinha, de facto, muita pena de não estar connosco, não eram propriamente ciúmes! Mas eu gostava muito de me meter com ela… Um dia ela chegou mais tarde e eu disse: “Olha Catarina, esta senhora é a tua mãe caso não a conheças.” Presumo que não tenha obtido a melhor resposta do mundo, mas ainda assim fico com vontade de copiar!
Com a Catarina sempre a ouvir a nossa conversa, no meio de uma e outra bolacha, acabámos a debater a nossa opinião (que por acaso era semelhante) sobre as sobre-preocupações que os pais têm, quando algo na resposta do João me chama a atenção: “Há pais, claramente, noutro nível de complexidade em relação a coisas que não nos parecem vitais… Nós por exemplo nunca esterilizámos nada! No máximo a água vem quentinha do esquentador. Não estamos propriamente em Maputo… Apesar de já lá termos estado.” Maputo? Como assim Maputo? Fiquei então a saber que a Catarina foi com os Pais a Maputo quando tinha 6 mesinhos… A idade exacta com que o Sebastião vai andar de avião a primeira vez, apesar de uma viagem mais curta! Confesso que sempre odiei viajar de avião ao pé de bebés… Sempre os adorei no solo, mas há qualquer coisa de arrepiante no sentarmo-nos ao lado de um num voo, pois existe sempre a possibilidade de sermos brindados com uma sinfonia de gritos e choro à qual assistimos na primeira fila! Não o estou a ver a acontecer, mas a simples hipótese de o Sebastião decidir ser um desses artistas deixa-me um tanto ou quanto inquieto! Pergunto assim, a medo, como foi a experiência do João: “Tu não sabes o que vai ser… Primeira vez de avião, sabes lá… Estava com muito receio! Mas foram dez horas de avião para cada lado e se ela nos chateou a cabeça (a nós e aos outros passageiros…) uma hora nas vinte foi muito… Podia ter sido terrível e foi maravilhoso!” Fico silenciosamente a desejar ter a mesma sorte para a nossa mini-viagem…
Continuando a conversa, já com a Catarina a fazer uma soneca, acabámos por falar dos maiores desafios que a Paternidade nos trouxe: “Desafios? A fase em que não percebes o que ela quer… Já lhe deste comida, já mudaste a fralda, já dormiu, tem chucha, mas continua a chorar… Tu não percebes o que é e já tentaste todas as respostas que conheces! Nessa altura tens de te revezar para não chegares ao ponto de o quereres atirar à parede! Também me fez muita confusão a quase inexistência de pescoço que eles têm… Tinha de me estar sempre a dizer a mim próprio para não me esquecer de agarrar a cabeça” Depois de agradecer aos céus o nunca ter passado por isto, quis saber se o João já tinha algum tipo de experiência nisto, ou se foi tudo uma novidade: “A primeira fralda que mudei na minha vida foi da Catarina na maternidade! Não fizemos curso nenhum antes do parto, mas fizemos uma consulta pré-natal com o Pediatra que nos ajudou imenso… Chegámos lá um bocado com a postura: “Olá… Temos uma coisa aqui dentro e não sabemos bem o que devemos fazer quando ela chegar” e ele ajudou-nos muito… Para além disso, apostámos tudo naquele calhamaço que é o Grande Livre do Bebé do Mário Cordeiro… É basicamente o nosso manual de instruções… Tem tudo e um índice remissivo óptimo!” Considerando os bons quilos de fraldas mudadas a sobrinhos vejo que, de certa forma, parti em vantagem em relação ao João, mas acabamos por concordar que, inexplicavelmente, há algo em nós que nasce ao mesmo tempo das crianças: “Percebi que tinha muito mais instinto do que pensava… Começas a distinguir sons, expressões e manias num instante” Para além disto, concordamos também que há outras coisas que, apesar de não sabermos, descobrimos muito rápido: “Há uma curva ascendente na utilização de babetes e fraldas de pano… Ao princípio parece que não são necessários mas chega a uma altura em que tens de ter um por divisão… no mínimo…”
No seguimento deste tema, faço então a pergunta sobre a chucha no chão, com e sem Mãe por perto… Obviamente que alguém com pouco contacto com bebés vai ser muito picuinhas com isto… Será? “O critério é o chão onde cai. Se cai num chão minimamente limpo muito bem, se cair num sítio a roçar o tóxico vai logo ser lavada. O que, por exemplo, acontece sem a mãe ver é que normalmente ela acaba a sopa, eu passo a colher pela boca, passo por água e está limpa… A ASAE chumbava-me mas ela continua saudável e não há necessidade de ter barreiras extra de cuidados! Quanto mais depressa eles comerem terra melhor!” Apesar de concordar plenamente com a linha de raciocínio, pergunto-me se, não tendo contactado com muitos bebés antes do Sebastião, conseguiria ter esta lucidez.
Perguntei ao João como lhe nasceram estes ideais e a resposta entrou-me na cabeça como uma daquelas lições que os avós nos dão: “A mim sempre me disseram: “O primeiro é de Cristal, o segundo é de Metal, o terceiro é de Borracha e eles sobrevivem todos”… E eu pensei logo: “Se é assim vou já fazer tranquilamente para que o meu primeiro seja já de Borracha”… Tento mesmo ser o mais descontraído possível e tem corrido muito bem, para mim e para a Catarina…”
Antes de nos despedirmos, acabei por fazer a pergunta que faço sempre aos Pais de meninas: “Queria um rapaz primeiro porque eles são muito mais enérgicos, pelo que ouço… Portanto queria primeiro o rapaz porque sou mais novo e tenho mais paciência do que vou ter no segundo… Só isso!” Segundo este pensamento posso, mais uma vez, considerar-me um sortudo, mas há também a outra história de a cegonha trazer sempre primeiro o calminho para nos dar vontade de mandar vir mais e só manda os problemáticos depois…
Para a semana cá nos encontramos outra vez…
Esta semana decidi partilhar como foi a última ida ao Pediatra do Sebastião:
Saímos de casa (obviamente à hora da consulta porque já somos pais muito experientes e sabemos que temos cerca de 30 min de tolerância para a nossa consulta…) e seguimos caminho sem grandes acontecimentos como é normal porque o Sebastião não é de se queixar muito, exceptuando os recorrentes chorinhos nos semáforos encarnados… Sim, o miúdo gosta é de andamento e não está para estar parado no trânsito (ou então não gosta de encarnado, o que na verdade é uma característica que não me desagrada…)!
Eu gosto sempre de idas ao Pediatra… Faz-me ter aquela “ansiosidadezinha” boa de quando era eu a ir ao médico e gosto verdadeiramente do Pediatra do Sebastião que é tão bom médico como conversador! Para esta consulta estava particularmente entusiasmado porque queria mostrar o meu rebento. Como tenho dito, o Sebastião é um anjinho e o bebé mais bem-disposto que já vi, portanto, imbuído daquele orgulho próprio de Pai estava com muita vontade de chegar e, no meio da consulta, dizer ao médico: “Oh Doutor, olhe-me bem para esta maravilha de rapaz! Todo sorridente, sempre bem disposto, grande e mesmo bem desenvolvido” ao que ele me responderia algo simples como: “É verdade Francisco… É o bebé mais impressionante que vi em todos os meus anos de carreira!”
Isto tornou-se ainda mais marcante porque o Pediatra já nos tinha avisado que a partir desta consulta (dos 4 meses) o Sebastião ia deixar de gostar tanto de estar naquele consultório e ia começar a refilar na maioria das consultas! Ora, como é claro, isto fez-me aparecer um sorriso interior e pensei: “Espera aí que já vais ver… Alguma vez este miúdo se vai portar mal? Prepara-te que vais ver como é esta maravilha de rapaz…”
Entrámos no consultório, aperto de mão para aqui, beijinho para ali, conversa posta em dia e eu com cada vez mais vontade de tirar a criatura do ovinho qual Rafiki no Rei Leão! Chegou então a altura me que nos foi dito: “Então vamos lá ver esse rapagão!”. Tirei-o do ovo, coloquei-o na bancada e não contive um: “Olhe lá para este bem-disposto Doutor!” Bem dito, bem feito: o Sebastião saiu do ovo com um sorriso nos lábios e não deixou o Pai ficar mal… Durante 2 segundos!!
Pois que o meu querido filho, decidiu que deveria mostrar que era o médico com anos e anos de experiência, e não Pai de um filho de 4 meses, que sabia o que iria acontecer nesta consulta… Inacreditável! Assim que o médico lhe pôs as mãos em cima, desatou num berreiro agoniante… Fez sons e gritos que nunca na minha vida tinha escutado e eu, enquanto apanhava o queixo do chão, tentava amenizar a coisa com repetidos: “Que estranho… Ele nunca faz isto… Ele não é nada assim” Para piorar a situação, quando a mãe se tenta aproximar para “salvar” a cria, o médico pede que não o faça porque quer ver a reacção dele. Ao ver a Mãe aproximar-se e afastar-se ao mesmo tempo , o Sebastião resolve descobrir ainda novos volumes e timbres cortantes para soltar da sua garganta! A consulta continua, no meio do desespero fingido do meu filho, e chega finalmente à parte da conversa com o Pediatra, que nesse dia foi acompanhada por um constante soluçar do Sebastião. Sendo que o choro tinha parado quando foi devolvido ao colo da progenitora, sabia bem que tipo de conversa se ia seguir. Ou seja, estava à espera de elogios e condecorações e ia sair dali com um ralhete!
Nisto, apesar de estar completamente perdido e sem saber o que fazer, tenho um laivo de egoísmo paternal e penso que talvez ainda me safe bem disto. Não somos muito de lhe pegar ao colo quando ele está a chorar mas já sabia que seria a primeira pergunta e assim foi. A Mãe lá disse que não lhe estava sempre a pegar quando ele chorava (porque, na verdade, ele também nunca chora em casa…) mas que às vezes podia acontecer! Era a minha deixa e todo pimpão e empertigado lá digo: “Pois… Eu nunca lhe pego logo quando ele está a chorar! Normalmente só lhe faço umas festinhas… Ou converso com ele… Ou lhe ponho a mão por cima…” Algures por aqui, percebo que talvez a conversa não esteja a tomar o rumo que pretendia, mas como já estava embalado continuei: “Ou faço umas caretas para o entreter… Ou abano-o para ele se distrair…” A verdade é que ainda tinha mais mas, em boa hora, o médico interrompeu-me e concluiu: “Isso é tudo igual… É colo também! O Francisco não pense que colo é só levantá-lo da caminha! Quando digo colo, digo darem-lhe o que ele quer quando ele quer e ele já o topou a si com uma grande pinta!” Pumba! Aprendi neste dia a não me armar aos cucos no que diz respeito àquilo que digo que faço e a não me tentar safar com o fácil: “ A Mãe é que lhe faz as vontades todas”
Notem que esta situação foi também algo exagerada, o que o próprio médico reconheceu! O Sebastião é um rapaz muito sociável que fica bem com toda a gente e o próprio médico o provocou para ver até onde ele ia. Mas lá falámos e percebemos que havia algumas pequeninas coisas que podiam ser feitas de outra maneira! Rimo-nos do incindente, despedimo-nos e o Pediatra atira, sorridente, uma última humilhação para este Pai: “Eu sei que ele se porta muito bem, mas tenham cuidado com estas pequenas coisas, porque qualquer dia, quando menos esperam, começa a chorar quando param nos sinais encarnados…” Ups… Nunca tínhamos referido isto e achámos por bem apenas sorrir, sair e continuar a não dizer nada…
Por fim, enquanto a Mãe pagava a consulta e marcava a próxima, debruço-me sobre o ovo e digo ao meu filho: “Hoje pregaste-me uma bela partida” e de repente o reguila dá-me o sorriso mais gozão que já tinha dado. Sorri, disse para dentro “Olha-me este sacaninha…” e saí ainda mais orgulhoso do que tinha imaginado antes… Coisas de Pai!
Até para a semana 😉