O dia mais feliz da minha vida, e por consequente deste ano, foi o dia do nascimento do Sebastião… É um dia incomparável com todos os outros por toda a comoção e felicidade que traz. É, talvez, o único dia em que podemos dizer que há um antes e um depois… em que a nossa vida muda de repente para algo completamente diferente e onde alteramos num ápice as nossas prioridades. Não contando com este momento único na minha vida, poderia dizer que o melhor dia deste ano foi para mim (e acredito que para muitos outros…) o dia 10 de Julho! E por alguma razão, quando penso nesse dia hoje, não consigo deixar de pensar também no Sebastião… Porque queria muito que ele já estivesse lá comigo, a festejar e a celebrar, a saltar e a gritar. Como em tantas outras coisas hoje em dia, quero que se repitam para poder partilhá-las com o meu filho… E aquelas que não puder, quero poder guardar para lhe contar como foi!
A conversa de hoje, leva-nos então para esse dia tão marcante para uns quantos milhões de pessoas e começou obviamente com um “Obrigado campeão!”. O Pai que convido hoje para este espaço é Adrien Silva… Capitão do Sporting, um dos 23 que nos trouxeram o caneco de França e, acima de tudo, pai do Santiago e do Thomas.
Como disse antes, este dia é um dia que gostava de ter já partilhado com o Sebastião, por muitas e variadas razões. Foi um dia em que o ambiente em Lisboa era diferente, onde as pessoas estavam unidas com um propósito, onde todos festejaram juntos e acima de tudo porque adoro futebol, ver a minha equipa ganhar e a alegria que isso traz. Sendo um Portista inveterado, posso dizer que já vivi muitas alegrias, mas posso também dizer que ser Portista em Lisboa ou no Alentejo pode ser um pouco solitário… Muitas vezes me perguntam “como pode um Alentejano que vive em Lisboa ser do Porto?”. Fácil… O meu Pai também é! Não sei porquê e nunca fui convencido para tal, mas algo sempre me disse que o meu Clube deveria ser também o mesmo do meu Pai. É uma ligação e um ponto de união que está sempre lá e o qual quero muito conseguir passar ao meu filho! Foi com este tema, a partilha deste receio, que iniciei a conversa com o Adrien… Bem sei que não podemos escolher por eles, mas quis saber se também ele, ainda para mais com a ligação que tem ao assunto, pensa como eu. O quão importante será para ele a escolha clubística dos filhos: “Gostava, mas não é ao ponto de ficar muito triste se não forem… O gostarem de futebol ou de outro desporto já era muito bom. Mas por enquanto está a correr tudo muito bem (risos), porque o Santiago gosta. Pede para ficar a dormir com o equipamento do Sporting e faz birra para não o tirar… Durante o Euro, foi até difícil habituá-lo a que o Pai jogava com outra camisola e no principio só queria torcer pelo Sporting. Mas a partir de certa altura habituou-se a ver-me com a camisola da Selecção e só dizia “Portugal; Portugal”. Mas sim, até agora, adora ir ao estádio e fica muito alegre de ver os jogos do Sporting… Vibra muito com os jogos”. Apesar de achar que é “um nadinha” mais fácil para o Adrien passar este testemunho para os filhos do que vai ser para mim, acabei por ficar surpreendido com a falta de receio dele e pela sua capacidade de aceitação. Bem sei que é uma escolha deles, mas será das únicas em que quero ter toda a influência possível e ficarei de certa forma devastado se não puder um dia ver os jogos do meu Clube com o filho, conversarmos sobre isso, ir com ele ao Estádio. Ao partilhar isto, creio que o Adrien-adepto se sobrepôs por fim ao Adrien-jogador: “Tenho saudades de ir ao estádio como adepto… E sim, com um filho então vai ser maravilhoso e é algo que vou apreciar muito. Ser como era como quando ia com o meu Pai e o meu irmão…. Espero que seja assim com eles.” Fica assim evidente que é importante para ele que os filhos também sejam sportinguistas: “Sim como é óbvio… Sem dúvida que tenho essa vontade” e fico eu mais descansado por não me sentir tão intransigente, ou no mínimo, por não me sentir o único nesta luta. Pelo menos com a Seleção não teremos este tipo de problemas, certo? “Sim! Até tive com o Santiago um momento marcante, já depois do Euro. Estávamos em casa e ele ouviu o hino a tocar na TV e pegou no irmão que estava ao lado comigo a brincar, meteu o braço no peito e começou a cantar… a tentar cantar que ele ainda só sabe a parte do “Às armas; Às armas”… Foi um momento muito espontâneo”.
Mantendo-nos no mesmo tópico futebolístico, perguntei ao Adrien se já sente que algum dos filhos reage de maneira diferente quando ganha ou quando perde. “Ainda não percebem se ganhamos ou perdemos… É só a festa do ir ao jogo, do barulho, de cantar, dançar e bater palmas. Penso que qualquer dia vá começar a notar mas não sei como vai reagir”. Se para mim é curioso saber se e como o meu filho vai reagir a quando tiver um mau dia no trabalho, imagino neste caso em que eles estão a ver como as coisas correm e em que é difícil deixar o trabalho longe. Terminando o tema da bola, questionei apenas se os amigos da escola dos filhos alguma vez reagiram de alguma forma diferente quando vão lá a casa, ou se os próprios filhos alguma vez o referem: “O Santiago começa a perceber… Mas só me diz algo quando vê o fato de treino. Diz-me: “É o fato do Pai ir trabalhar… É hora de ir trabalhar, jogar à bola”, e começa a ficar triste às vezes porque sabe que os estágios são dois dias e que vou estar sem estar em casa. Os amiguinhos ainda são muito novos, nunca me disseram nada a não ser alguns miúdos mais velhos lá na escola… Sou só o Pai do Santiago e do Thomas e assim é que deve ser!”
Com isto, passamos então a conversa para o tema da Paternidade e o que isso significa. Uma das coisas quero sempre saber nestas pequenas conversas é a opinião dos meus convidados sobre o que distingue o Pai da Mãe: “Eu costumo dizer que tento dar a mesma educação que me foi dada pelos meus pais, porque foi um exemplo… O meu Pai sempre foi mais de me pôr na linha e a minha mãe sempre foi mais de mimos e é isso que tento fazer como Pai… Tenho mais a função de tentar não dar muitas abébias, mas sempre tentando manter algum equilíbrio… Também dar carinho e principalmente fazer muitas actividades com eles… Para também não ser sempre o mau da fita. Para além disso eles sabem que actividades físicas é mais com o Pai porque aguenta mais (risos). A mãe é mais ver filmes e mais mimos”. Apesar de estar um pouco aquém da forma física de um jogador profissional de futebol, penso que cá em casa esta parte seguirá o mesmo caminho e surpreendentemente o argumento de aguentar mais poderá muito bem ser válido. E que actividades são essas? “Primeiro ir para o jardim porque na relva já não há perigo de baterem com a cabeça nas esquinas (risos)… Adoram trampolim, bicicleta, jogar à bola… Tudo o que for para gastar energia eles estão dentro”. Começa a parecer-me, que seguir apenas uma criança durante uma tarde inteira, seja uma tarefa mais parecida com uma marcação ao Modric durante 90 minutos do que pensava anteriormente. Talvez seja recomendável começar a dar uma corridinha de vez em quando…
Cá em casa, a única coisa que já se nota de diferente no Sebastião em relação ao Pai e à Mãe, são umas pequenas birrinhas e intriga-me muito o tipo de manhas que ele vai ter em relação a cada um de nós em separado. É natural que eles percebam quem cede primeiro e em quê, mas é engraçado ir percebendo isso. O que o Adrien me conta soa-me, por isso, completamente familiar: “Já conseguem perceber os dois que a mãe cede mais facilmente… Eu tento segurar-me e manter firme aquilo que eu acho melhor para eles… Mas é das coisas mais difíceis! Há coisas que eles pedem mais à mãe porque sabem que comigo não vão lá”. Por aqui, ainda não chegou a fase de pedir coisas… Este acontecimento sucede maioritariamente na hora de deitar. O Pai cá de casa é um pouco mais resistente a retirá-lo do berço tendo conquistado a tarefa de adormecer a criança e quis saber se se passa algo semelhante: “Vamos sempre os dois, quando é possível… Eles estranham quando um de nós não está. O Thomas, desde que haja biberon, está tudo bem… mas o Santiago já pergunta por quem não está e quer sempre ficar a brincar mais e a fazer asneiras a ver se chega a outra pessoa”. Ainda não sei como será connosco, mas uma parte algo egoísta de mim deseja que o Sebastião também faça a sua birrinha para esperar que o Pai chegue a casa…
E é um pouco com isto que terminamos a nossa conversa. Com este desejo de eles quererem sempre ter-nos por perto e nós podermos estar sempre lá quando eles querem. É um pouco nisto que reside a essência de ser Pai. Quando questionei o Adrien sobre como ele queria que fosse a relação dele com os filhos no futuro o que me disse foi: “O mais importante é estar sempre presente quando eles necessitam de qualquer coisa… Quando eles começarem a ter questões, a querer conselhos e a fazer a sua vida, dizer sempre presente quando é preciso. Quero sobretudo acompanhá-los naqueles que forem os gostos e as paixões deles… Se eles assim o entenderem, porque nalgumas idades não queremos lá muito saber dos Pais (risos)… Mas quero estar sempre disponível… Mesmo que não queiram saber de nós durante algum tempo, temos de responder presente quando eles querem”. E o que muda na nossa vida? “O tempo que temos para nós; a prioridade passou a ser o Santiago e o Thomas e a vida é feita consoante as necessidades deles e nós Pais passamos para 2º lugar… O tempo é muito mais escasso”. Sem dúvida que sim… O tempo de um dia parece ficar bastante mais reduzido mas, por mim falo, é também tão mais bem gasto e gratificante do que antes…
Resta-me a pergunta que farei a todos os Pais neste espaço “Quando a chucha cai ao chão, o que fazes se estiveres sozinho e o que fazes se a Mãe estiver presente?”. Neste caso, a resposta não tem somente a ver com a Mãe, mas também com outra condicionante: “Fazia a mesma coisa com o primeiro… Agora não é tanto pela presença da mãe, mas com o segundo já não reajo da mesma forma. Percebi com a experiência que há coisas que não fazem sentido… é preocupação a mais, hoje em dia já não vou passar por água nem nada… Isso já acabou!” Apesar de compreender, por enquanto, é algo que ainda não sei como será. Estou a iniciar o caminho com o Sebastião e esse será um assunto para mais à frente. Hei de o descobrir, mas de preferência com um passo, ou chuto, de cada vez…
No início da desta viagem, faz sentido que o primeiro convidado seja alguém que iniciou recentemente esta experiência… Alguém que ainda esteja a encontrar e a descobrir todas as emoções e sentimentos que a Paternidade provoca… Alguém que ainda não tenha conseguido parar para pensar mais que um simples “Wow… Sou Pai!!!!”
Pois bem… sendo assim, não haverá melhor primeiro convidado que eu próprio. O Sebastião está neste momento com 1 mês e por isso enquadro-me perfeitamente no perfil deste primeiro convidado e é, talvez, um exercício do qual precise para que possa começar a pensar o que tudo isto significa!
Neste momento está tudo um pouco turvo… sabemos que começa assim, mas, invariavelmente, as coisas com as quais sonhámos ao descobrir que vamos ter um filho acontecerão um pouco mais para a frente no caminho. Agora? Somos pouco mais que aqueles animais que vemos nos programas da National Geographic: a cria nasce, lambe-se a cria, e agimos por instinto a tudo o que a cria faça ou a qualquer ameaça latente! Graças a Deus o instinto está de facto lá, porque há mesmo qualquer interruptor de alerta que se liga depois de o termos uma vez nos braços. Mas nada nos prepara para isto… E acreditem que acho que estava absolutamente preparado. Estou perfeitamente à vontade com um bebé, não tinha medo de lhe pegar, sei há muito tempo mudar fraldas de olhos fechados (e nariz tapado também) e dar de comer nunca me trouxe nenhuma dificuldade… Mas é um tornado de emoções, preocupação, sonhos e realidades que nos tira um pouco os pés do chão! Um misto de viver o presente e imaginar o futuro que nos assola… queremos aproveitar cada momento ao máximo e ao mesmo tempo não conseguimos parar de desejar que passe rápido para podermos experienciar outras coisas!
Contudo, há algumas coisas que posso garantir já… Ser Pai é aprender a ficar perfeitamente à vontade com cocós e xixis… E passado pouco tempo chegar mesmo a ficar contente com a aparição desses cocós e xixis… É rir as primeiras vezes que ouvimos uns punzetes e começar a pensar que num futuro não muito distante poderemos atirar para a criança qualquer descuido nosso… É estar preocupado com tudo, nervoso com tudo, com medo de tudo, mas ter de mostrar à mãe que estamos perfeitamente tranquilos com tudo o que acontece para não se entrar em pânico só por ele ter feito um som que nunca fez… É tentar lembrar-me de desinfectar e esterilizar tudo, não me lembrar, dizer que não há problema e ficar a atormentar-me a mim próprio por não me ter lembrado… É desesperar e ao mesmo tempo ficar reconfortado com uma crise de choro (que na verdade não dura mais que uns minutos)… É querer agitá-lo e abaná-lo mas perceber que isso ainda só o deixa pasmado e enjoado… É poder ver o primeiro jogo do Porto com ele ao colo e acreditar que estamos a ver o jogo com ele… É ficar com ciúmes quando ele chora no nosso colo e não no da mão e ficar de peito inchado quando chora no da mãe e não no nosso (e depois perceber que isto é apenas e só perfeitamente aleatório…)… É achar que ele se está a rir para mim quando na verdade está só a aliviar-se (sim… é uma experiência muito mais escatológica do que esperava, apesar de saber que andava muito à volta disto…)… É panicar a cada vez que pensamos que teremos de voltar ao trabalho e que a vida no mundo real continua a acontecer como se nada se tivesse passado… E acima de tudo é olhar! Olhar para ele a dormir, acordado, a chorar, a tomar banho, a fazer cocó, a fazer xixi, a bolsar a arrotar ou o que quer que ele faça e ficar completamente hipnotizado! Essa é a principal alteração na nossa vida… A verdade é que se confirma que o tempo é muito curto depois de sermos pais, mas não é por eles não nos deixarem fazer nada… é porque nós escolhemos ficar a olhar para eles ao invés de fazer seja o que for!
Sei que ser Pai é muito mais… imagino e sonho com muito mais que se vai certamente passar enquanto ele cresce e descobre também o que é ser meu filho! Tenho tempo para isso, bem sei! Para ir descobrindo, porque é mesmo assim que as coisas devem ser, para mim e para ele, e sei que vai acontecer com uma velocidade muito maior do que espero… enquanto isso vou falando com os outros Pais mais experientes, para saber como é para eles, como reagem às coisas que acho que vão acontecer, se fazem e como fazem as coisas que vou querer fazer.
Para a semana começa a investigação junto dos meus pares, mas a aprendizagem já começou e não acredito que vá parar…